O Dia que Não Terminou
N.A.: Aráááá ò,o vocês acharam que eu ficaria mesmo mais de duas semanas sem postar uma songficzinha sequer? Pegadinha do Malandroooo! XD Esta é de presente pra Ephemeron (Ephe-chan para os mais chegados ^^). A outra pode demorar um pouco mais Ephe, mas esta foi feita com todo o carinho de quem está ouvindo pela centésima vez o CD "Fallen", do Evanescence - AMY LEE, YOU'RE SO FUCKIN HOT! *_*
Disclaimer: Saint Seiya não pertence a nenhum de nós. Mas isso é só o que dizemos para acalmar os coraçõezinhos dos criadores ^^#
Me sinto tão estranho aqui
Que mal posso me mexer, irmão
No meio dessa confusão
Não consigo encontrar ninguém
Onde foi que você se meteu, então?
No dia em que ele venceu a geleira eterna e conseguiu a armadura de cisne, um orgulho absurdo tomou conta de mim. Afinal, eu não o via somente como um aspirante a cavaleiro, mas também como o irmão caçula que sempre quis ter. Não tinha a pretensão de querer um filho, já que a diferença de idade entre nós dois era mínima. Não tive medo de abraçá-lo, parabenizá-lo e, mais tarde, lembrar ao agora jovem cavaleiro que a armadura não era tão somente uma dádiva vinda com merecimento, mas também um fardo de responsabilidade que cada guerreiro de Athena tem a honra de carregar. Ele respondeu que acostumara-se ao termo "responsabilidade" ainda criança com a morte da mãe e, alguns anos depois, com a de Isaak. Esta lembrança trouxe-me um pouco de tristeza, porém já estava pronto para perder alunos no meio do treinamento. Só que...nunca é fácil, e acho difícil acreditar que qualquer tutor no mundo não sinta o mesmo.
Tô tentando te encontrar,
Tô tentando me entender,
As coisas são assim
Meus olhos grandes de medo,
Revelam a solução, a solução
Meu coração têm segredos
Que movem a solidão, a solidão
Foi no amanhecer seguinte que Hyoga partiu de volta ao Japão, após despedir-se do povo em Kohotek e de mim, logo em seguida. Enquanto ele subia no navio que o levaria até um dos portos japoneses, senti um nó na garganta e no coração, porém sem deixar qualquer lágrima escapar: sentia que o destino guardava sortes trágicas para ele e para mim. Naquela noite, rezei para o Deus dos cristãos, na esperança de que Ele me desse a honra de lutar ao lado do Cavaleiro de Cisne, e não contra ele. Estranhamente, o medo não saiu de mim; acabou acompanhado de uma cálida sensação, de que tudo acabaria bem, apesar dos pesares. Passado um mês, recebi um aviso do Mestre para dirigir-me imediatamente ao Santuário, ele precisava falar comigo. O que não entendi, com toda sinceridade: raramente ele desejava falar com os cavaleiros mais distantes. No entanto, como seguidor e protetor de Athena, não pude desobedecer. Embarquei num navio que levou-me à Moscow e, de lá, fui de avião para a capital grega. A distância não era das maiores. Com roupas normais, segui para o santuário, trajando minha armadura somente às portas do local. Permitiram minha entrada imediatamente.
Me sinto tão estranho aqui,
Diferente de você, irmão
A sua forma e distorção,
Não pareço com ninguém, sei lá
Pois eu sei que nós temos o mesmo destino, então
Assim que deparei-me com os portões do Salão do Mestre, eles foram abertos, sem as costumeiras perguntas dos guardas. Não entendi e desconfiei; afinal, eles sempre vinham com questionários quilométricos, para certificarem-se de que o cavaleiro, aspirante, amazona ou qualquer um que entrasse realmente tivesse a permissão do Grande Mestre ou fosse defensor de Athena. Contudo, entrei sem delongas. Ajoelhei-me perante o segundo em autoridade no Santuário - nenhum de nós estava à frente da Deusa, é claro. Ele levantou-se de seu trono e veio até mim, numa atitude surpreendente. Pediu para que eu levantasse e olhasse para ele, e assim o fiz. Observando atentamente aquela máscara, senti medo. O mesmo que assolou-me com a partida de Hyoga. Algo iria acontecer ali, naquele dia, e provavelmente eu nada poderia fazer. O Grande Mestre disse-me que sentia pesar por mim, e eu perguntei o porquê daquilo. Ele revelou que havia um pequeno grupo de desertores, liderados por uma garota que cometia o sacrilégio de afirmar ser Athena. Concluiu dizendo que o Cavaleiro de Cisne era um destes traidores, e que minha missão, como antigo mestre dele e Cavaleiro de Prata fiel ao Santuário e à Athena, era acabar com a vida de Hyoga. Claro que minha visão embaçou e minha cabeça deu voltas, pelo choque e pela dor da tarefa a mim imposta.
Tô tentando me encontrar,
Tô tentando me entender,
Por que tá tudo assim?
Ele chamou-me à realidade alguns minutos depois, já que meu olhar estava perdido entre as colunas e as paredes do Salão. Ríspido, sussurrou de forma aterrorizante que era meu dever e que, se não executasse a tarefa, também eu seria um traidor do Santuário. Neste momento finalmente tive coragem de falar. Gritei que Hyoga não era traidor, que o conhecia muito bem, que agora éramos irmãos no combate e que não possuía mais autoridade sobre ele. Saí do local falando que não era fiel ao Santuário e à Athena, mas sim à Deusa, sempre em primeiro lugar. Caso o Santuário estivesse certo, também obedeceria a ele. Iria investigar se tudo era verdade ou apenas uma farsa de um Grande Mestre que já despertava minhas suspeitas há tempos. Ele gritou meu nome quando eu já alcançava a saída de uma das casas zodiacais. Virei-me e senti uma forte pontada na cabeça e um frio na espinha: o Satã Imperial. O mais temido e conhecido golpe do Mestre. Eu sabia o que acontecia ao meu redor e tinha a plena consciência de meu desejo de não seguir mais o Santuário...mas meu corpo e minha mente agora eram reféns da vontade de outra pessoa. Como ordenado por ele, parti de volta à Sibéria, esperando a visita de meu ex-pupilo para ceifar sua vida. Perdoe-me, Hyoga, eu devia ter feito mais por você.
Meus olhos grandes de medo
Revelam a solução, a solução
Meu coração têm segredos
Que movem a solidão, a solidão
Não demorou muito para que Cisne chegasse à Kohotek, pois um cavaleiro mandado pelo Santuário fizera os moradores do vilarejo de reféns e escravos. Conseguiu vencê-lo sozinho. Mal sabia ele que tudo não passava de uma isca para que voltasse à Rússia. Teve a péssima idéia de visitar-me, e percebi que o destino conspirava a favor da morte dele. Conhecia meu ex-aluno, sabia que ele sempre teve a conduta de respeitar quem admirava, e não foi diferente comigo. Dei-lhe um soco carregado de cosmo que o jogou alguns metros à frente. Ele não entendeu, tentou aproximar-se para saber o que acontecia. Eu não quero ferir Hyoga, mas o golpe do Grande Mestre comanda minhas ações e nada mais posso fazer, e não ser orar para que Hyoga entenda que não sou mais seu mestre: naquele momento, éramos oponentes, e o melhor venceria. Nossa batalha começou com os vários golpes que dei no rapaz e ele, atônito, não reagia. Vamos, Cisne! Lute, defenda a justiça, pois já não estou ao lado dela, mesmo que contra a minha vontade! Para minha alegria e sorte dele, seu amigo chegou para ajudá-lo. Pela armadura, supus ser o Cavaleiro de Pégaso. Mas o rapaz não queria ajuda, só queria entender o que acontecia com aquele que sempre o tratou bem, apesar da rispidez do treinamento.
Quem de nós vai insistir, e não
Se entregar sem resistir, então
Já não há mais pra onde ir
Se entregar a solidão e não
Foi uma breve recuperação de minha sanidade e as palavras realistas de Pégaso que o trouxeram para a verdadeira luta: falei que não o havia treinado daquela forma, que ele devia lutar, não importa se o oponente fosse seu melhor amigo; a justiça e a paz na Terra deveriam sempre ser a prioridade. Ele levantou-se e lançou seu Pó de Diamante em mim. Consegui conter por alguns minutos, o que não foi suficiente: meu corpo foi lançado vinte à metros de distância. Levantei-me e o golpeei novamente, mas caí de joelhos, novamente sentindo as terríveis dores causadas pelo Satã Imperial. Não tive tempo de recuperar-me, pois Hyoga lançou seu golpe mais forte até então: Trovão Aurora. Sem defesa ou chance de levantar, fui atingido fatalmente. Estava morrendo, e ainda assim a paz que senti rezando agora invadia meu corpo ferido e quase morto. Ouvi, ao longe, os gritos de Hyoga e senti, momentos depois, seu braço apoiando minha cabeça que sangrava. Seu amigo estava ali também, pedindo para eu ser forte, que a ajuda logo chegaria. Eu sabia que não adiantaria.
Meus olhos grandes de medo
Revelam a solução, a solução
Meu coração têm segredos
Que movem a solidão, a solidão
Minhas últimas palavras não foram de consolo, mas ainda permaneceram verdadeiras em meio à toda dor que eu sentia. Não a dor física, mas a de não poder acompanhar meu irmão de coração e de batalhas nos desafios que ele e seus amigos enfrentariam. Segurei-lhe a mão direita com força e sussurrei em meio à sombra da Morte que vinha buscar o pouco que restava de minha vida: "Hyoga, ainda sofrerás muito em tuas batalhas. Jamais hesite em atacar, não importa qual seja o oponente...pois hoje vi que o teu lado é o da Justiça. Sempre terei orgulho de você". Não pude mais falar, a fraqueza tomou conta de mim e o último sopro de vida esvaiu-se de meu corpo junto com minhas lágrimas e o sangue que deixava meu corpo, maculando o gelo puro da Sibéria. Assim como este sangue, que jamais deixará as geleiras, eu sempre estarei ao teu lado, Hyoga. Não chore mais. Pois minha vida e meus ideais continuam através de você, meu irmão.