PRÓLOGO

1ª Entrada

Decidi começar a escrever um diário. No entanto ignoro a razão desta decisão.

Acho que, tendo 6 e 16 anos ao mesmo tempo, não sou muito bem compreendida. Na verdade, nem eu compreendo muito bem o que sou, quanto mais perceber porque é que tenho duas idades.

Se tenciono escrever um diário, seria ideal que relatasse um pouco da minha vida, no entanto não o tenciono fazer. A minha vida até é interessante, mas não explica que ninguém me perceba, nem mesmo a minha própria mãe. A única coisa que pode justificar esta falta de compreensão é a pessoa que eu sou:

Toda a família do lado do meu pai é vampira, a família da minha mãe é humana e a minha mãe tornou-se vampira quando o meu parto; dizem que eu quase a matei; agora tenho dificuldade em acreditar nisso pois a minha mãe é capaz de me derrotar em qualquer jogo de força, e eu sou muito forte.

Eu sou uma meia-vampira.

Parece estranho, mas é verdade. Na realidade, eu ser meia-vampira é a origem de todos os meus problemas. É por isso que decidi escrever um diário.

Tenho 6 e 16 anos ao mesmo tempo, mas toda a gente ignora a minha idade humana. Agora, sinto-me muito mais humana do que vampira.

Agora a minha idade humana grita sempre que me fazem sentir vampira.

Lá no fundo, sei que escrever é algo que herdei da minha mãe, quando ela era humana, é por isso que me agrada dedicar-me a um passatempo naturalmente humano.

Eu detesto os vampiros.

Não os detesto por serem vampiros, simplesmente desagrada-me a maneira como todos os vampiros que eu conheço desprezam a minha 'parte humana' como se ela não existisse.

Acho que descobri a razão de começar a escrever um diário: gostava de me sentir humana, não a tempo inteiro, mas durante os minutos que demorasse a contar a alguém tudo aquilo que me acontece. No fundo, é um acesso de imaturidade (segundo o meu 'eu' vampiro) ou (que é na realidade) uma atitude desesperada por ter outro 'eu', o 'eu' humano.