X

Vai me ver, lhe prometo;

A lápide era cinza, combinava com os olhos dele. Combinava com o modo como ele sempre vira a vida antes de saber que ela terminaria cedo. As letras negras mostrando uma realidade que ela não queria nem ao menos lembrar. Doía. Machucava. Sirius morrera. Ele lhe dissera que iria sem se despedir. Mas ele se despedira, ele deixara um amargo adeus dentro dela. Um último beijo. Um último olhar. Um último suspiro. Últimos.

Há quantos anos passava pela mesma lápide e olhava seu nome? Há quanto tempo estava esperando por aquele momento? Há quantos anos queria que ele cumprisse a promessa? Quis chorar. Era uma mentirosa, uma enganadora. Sirius abrira a alma para ela, mas Hermione nunca dissera nada. Nunca contara nada. Nunca dissera que ela, na verdade, morreria também. Antes. Bem antes do que as pessoas esperavam. Ela também escondera que estava morrendo. Que seu corpo era seu maior inimigo. Que estava destruindo-a de dentro para fora.

Ajoelhou-se na frente da lápide dele. Estava há dias sem remédios. Logo tudo começaria a mudar. Logo tudo começaria a parar de funcionar. Câncer. Maligno. Não operável. As palavras dele poderiam ser usadas por ela. O modo de viver dele poderia ser usado por ela.

Hermione viveu as cores que Sirius colocara no quadro dela, assim como deu as cores que ele queria. Sorriu. Queria ter prometido outras coisas, mas apenas prometera que ele a veria quando morresse. E vira. E ele agora poderia cumprir a promessa dele; deixá-la vê-lo quando fosse morrer. Era a promessa. Ele tinha que cumpri-la, de algum modo.

Recostou-se na lápide, observou o sol se pondo. Quatro anos. Os médicos lhe chamaram de guerreira. Mas todo guerreiro uma hora morre. E essa era a hora dessa guerreira. Sorriu, o amarelo do sol e o azul do céu lhe brindavam com misturas incríveis de cores. Pintavam o céu conforme o quadro dela estivera um dia pintado. Acariciou a grama, o cinza das lápides a frente brilhando levemente. Entristeceu. Sirius não estaria ali, ele nunca mais estaria ali.

Porém, ela também não. Ela apenas morreria. Ela apenas deixaria de existir. Sem promessas para mais ninguém, sem choro, sem dor, sem medo. O quadro começava a pintar-se por completo de preto e ela sorria. Sorria como não fizera mais depois que Sirius morrera. Porque a verdade era que Hermione pensava na morte apenas como isso, a morte. Nada mais, nada menos. Suspirou. Parecia senti-lo. E aquele momento.

De algum modo, sem que ela entendesse, ele estava ali. Ele estava sentado ao lado dela, ela sabia. E então era aquilo, o quadro cobriu-se de preto, a morte jogou o manto em mais uma vítima, e Hermione morreu tendo a promessa de Sirius cumprida. Ele estava ali. Não haveria outra explicação, não agora que o mundo deixava de ser vida e passava a ser morte. Para Hermione, a morte tornou-se o tudo e o nada para sempre, mas para o mundo ainda era apenas a morte.

Fim.


¹: Apenas a morte.