Pois é, chegámos ao último capítulo... Agradeço a todos que leram e me deram a sua opinião. É sempre maravilhoso de cada vez que leio um comentário a pedir um outro capítulo, mas todas as histórias têm um fim e esta também chegou ao seu. Espero que as dúvidas que o outro capítulo tenha criado se dissipem aqui e que adorem este capítulo final tanto como eu. Realmente foi o que me deu mais prazer de escrever.

Uma última coisa, a música que me inspirou chama-se "She's always a woman to me", de Billy Joel. A primeira vez que a ouvi veio-me imediatamente à cabeça a cena do Ron e das suas memórias e não digo mais: vão ler!

Adoro-vos,

FOG


Sienna

- Cheguei! - anunciou uma voz masculina, reverberando pela enorme casa. O seu cabelo loiro, desalinhado pelo forte vento que se fazia sentir, obscurecia-lhe os olhos cinzentos, enquanto deixava cair o manto e a vassoura à entrada da porta.

- Estou na sala! - respondeu uma voz feminina e o homem encaminhou-se na direcção de que esta provinha.

Uma longa cascata de cabelo acobreado caía pela face da mulher, emoldurando-lhe o rosto, que se dirigia para baixo.

- Que estás a fazer?

A mulher virou uns brilhantes olhos castanhos na direcção do homem e sorriu-lhe.

- Estou a contar-lhe como o meu pai descobriu sobre nós - informou ela, com um sorriso malandro.

- Espero que estejas a editar, nem todas as palavras que ele me dirigiu eram politicamente correctas - comentou o homem, aproximando-se da mulher - Olá bebé! - acrescentou ele, ajoelhando-se e dando um beijo na volumosa barriga da mulher.

- Scorpius, assim fico com ciúmes! - queixou-se ela, fazendo beicinho, mas rindo ao mesmo tempo.

Scorpius levantou-se e colocou a sua face ao nível da dela. A mulher susteve a respiração, sentindo-se hipnotizada por aqueles olhos claros.

- Rose - e o seu murmúrio fez um arrepio viajar pela coluna de Rose - amo-te!

Rose sorriu e puxando-lhe a face para a frente, iniciou o beijo que Scorpius teve todo o gosto em continuar.

Quando se afastaram, Scorpius olhou para o colo da mulher e viu que o objecto que captava a sua atenção, anteriormente, era um álbum de fotografias.

- A minha mãe enviou-mo. Encontrou-o entre as minhas coisas que ficaram lá em casa – explicou Rose, enquanto Scorpius estendia a mão para o objecto.

Pegando-lhe para o observar, viu que na primeira página, em primeiro plano, dois adolescentes, Rose e Scorpius, lhe sorriam e acenavam entusiasticamente, trocando olhares de cumplicidade e em segundo plano um outro, de cabelo preto revolto fazia sinais de ir vomitar.

- Realmente a Lily apanhou a essência do Al - comentou Scorpius, apontando para o amigo.

- Não julgo que o nosso padrinho de casamento gostasse de ser referido nesses termos - retorquiu Rose, numa voz reprovadora, mas ao contrário do que se suponha, usando um sorriso satisfeito.

- Ei, o homem pode ser padrinho, o meu melhor amigo e o teu primo, mas não há dúvida que... - começou Scorpius, mas Rose interrompeu-o com um beijo ao mesmo tempo que passava a página do álbum.

Com o passar das fotografias, Scorpius ia comentando com Rose os diversos acontecimentos, mas ao chegar à primeira foto em que estavam adultos, neste caso Hermione, calou-se bruscamente. Corou profundamente e Rose deu uma risada.

- Coitada da mãe, chamou-nos para irmos tirar fotos e apanhou-te literalmente com as calças nas mãos - gargalhou Rose, fazendo o marido corar ainda mais profundamente. A fotografia havia sido tirada nas férias de Verão a seguir à descoberta e Scorpius fora convidado para passar uns dias em casa dos Weasley, segundo a sua mãe para o conhecerem melhor e segundo os seus tios e pai para o fazerem arrepender-se dos seus actos. Haviam todos decidido ir passar a tarde a um rio ali perto e Scorpius estava a mudar de roupa, com Rose enrolada num sofá à espera dele, quando Hermione abre a porta e se depara com o rapaz a meio de trocar de calças. Corando e olhando reprovadoramente para a filha que lhe acenava alegremente, informou-os de que iam tirar fotografias no jardim. Verdade seja dita, Hermione nunca mais entrou no quarto sem bater antes.

Realmente as coisas haviam mudado bastante durante aqueles meses até ao Verão. Ron e Draco ao verem-nos juntos na ala hospitalar haviam desatado a gritar, desde acusar o filho ou filha do outro de fabricar poções de amor até a ameaçar o próprio filho/filha de o/a deserdarem. Se bem que a última ameaça não fora muito além, pois os adolescentes ao anuirem passivamente e afirmarem que se desenvicilhariam sozinhos, haviam deixado os pais em choque e Ron chegara ao ponto de suplicar à filha para não fugir de casa com o loiro sacana. Hermione e Astoria acabariam por ter de arrastar os respectivos maridos para casa, afim de acalmarem e depois então, tentarem conversar civilizadamente.

No entanto, na escola, o ambiente era tudo menos civilizado. Os Gryffindor olhavam ultrajados para Rose e os Slytherin culpavam Scorpius pela perda da Taça e por aparente traição ao alto nível da equipa. Hugo continuava a olhar chocado para a irmã, mesmo depois de Albus ter explicado toda a história a ele, Lily, James e Fred. Rose safara-se de tal tarefa, desculpando-se com dores de cabeça que Al sabia serem tudo fantochada.

James e Fred miravam Scorpius de forma ameaçadora e este não podia deixar de pensar que mais tarde ou mais cedo lhe aconteceria algo. No entanto, Rose ao reparar em tais olhares, levantara-se a meio do almoço, percorrera o caminho até à mesa dos Slytherin sob o olhar suspenso de centenas e agarrando-o pelo colarinho da camisa, beijou-o na boca. Podia ouvir-se uma agulha a cair no chão e até mesmo os professores os fixavam.

- Eu amo o Scorpius e vocês não tem nada a ver com isso! - afirmou Rose, para todo o salão, fixando os olhos enfurecidos, por momentos em Anita e Ruth. Dirigindo-se aos Slytherins, continuou - Vocês têm um magnífico capitão que deixou de comer e dormir com receio de vos desiludir, se querem culpar alguém pela derrota culpem-me a mim, mas não a ele. Ele merece muito mais do que a vossa desconfiança. Eu posso ser uma Gryffindor, - e olhou para a sua equipa - orgulhosa disso, e ainda assim estar apaixonada por um Slytherin. Esperava que depois da última guerra tivessem aprendido com os erros dos vossos pais! Quanto não se poderia ter evitado se se tivesse mantido um espírito de união entre os feiticeiros? Muitos de vocês poderiam ainda ter todos os tios, primos, avós... Mas foi por essa mesma mesquinhez, de quem nem os Gryffindor são imunes, que se perderam tantas vidas! Por isso deixem de ser idiotas preconceituosos e teimosos e aceitem de uma vez por todas que uma Gryffindor e um Slytherin, uma Weasley e um Malfoy possam ser felizes juntos!

Rose calou-se, ofegante e olhando para os colegas viu que estes a olhavam boquiabertos. Naquele momento, enquanto corava até à raiz dos cabelos, só desejava que se abrisse um buraco a seus pés, mas então, a coisa mais maravilhosa aconteceu: começaram a ouvir-se palmas, que ecoavam solitárias no enorme salão e olhando para cima, Rose viu que a directora a olhava de forma orgulhosa, enquanto a aclamava. Rapidamente, o resto dos professores se lhe juntou e a pouco e pouco, também as equipas haviam sido contagiadas. Inclusive os Slytherin, assobiando e batendo palmas de forma mais contida, acompanharam os restantes colegas.

- Conseguiste - sussurrou-lhe Scorpius, com um sorriso deslumbrante.

Rose sorriu-lhe tão abertamente que quase sentiu os maxilares a tremerem do esforço.

- Sabes, acho que o teu discurso daquele ano te deu as oportunidades de trabalhar nas Relações Mágicas Internacionais - afirmou Scorpius.

- Sim, mas não consigo deixar de ter saudades de voar todos os dias... - suspirou Rose, olhando para uma fotografia dela e de Scorpiu envergando as cores da equipa nacional de Quidditch, depois da sua vitória da Taça Mundial.

- Querida, com essa barriga ninguém te deixaria sequer sentar na vassoura. O teu pai teria um ataque cardíaco ou pior - disse Scorpius. Este sabia que Rose adorava voar e que o seu lugar de keeper nacional a enchia de orgulho: era algo que conseguira por mérito próprio e não por ter pais ou tios famosos, ninguém era melhor que ela naquela posição e o poder beijar Scorpius, depois deste apanhar a snitch no meio de uma enorme celebração só a deixara ainda mais apaixonada pela profissão, mas algo chamado maternidade fizera-a desistir desse trabalho, durante pelo menos nove meses, em prol de um lugar no Ministério.

- Mas vais ver em como daqui a pouco vais recuperar a tua forma e o teu lugar na equipa - animou-a Scorpius.

- Já agora, como correu o treino? - questionou Rose.

- Muito bem, aquele novo miúdo é realmente um prodigio... - começou Scorpius, com os olhos a brilhar. Após a sua brilhante performance no Mundial, tanto ele como Rose haviam sido recrutados pelos Puddlemere United com Scorpius ainda a pertencer à equipa e Rose temporariamente afastada.

Rose sorriu, ao ver o entusiasmo de Scorpius e uma leve pontada de ciúmes pelo ar sonhador deste ao descrever as suas acrobacias no ar. No entanto, a pontada rapidamente se transformou em várias e Rose arquejou, agarrada à barriga.

- Rose! - exclamou Scorpius, ao ver o seu ar de sofrimento. Saltou do sofá e correu a ir buscar a varinha que tinha deixado junto do manto.

- É o bebé? - perguntou ele, pelo que Rose anuiu, enquanto mordia o lábio para não gritar quando sentiu uma dor lacinante - Vamos para o hospital! - berrou Scorpius e pegando na mulher sem qualquer cerimónia, correu para a lareira, agarrando num pouco de pó de floo pelo caminho.

Ao chegarem ao hospital, viram-se imediatamete rodeados de curandeiros e Rose foi levada dos braços de Scorpius sem este se aperceber bem como. Sentia a cabeça a andar à roda e teve de encostar-se à parede, de olhos fechados, para não desmaiar.

- Mr. Malfoy? - chamou alguém e foi obrigado a abrir os olhos. Não se dignou a perguntar como sabiam o seu nome: mesmo depois de dois anos, o casamento Weasley-Malfoy continuava a ser assunto de revistas de bisbilhotice.

Uma feiticeira de ar rechonchudo olhava-o, preocupada.

- Precisa de avisar alguém? Posso fazer isso por si... - ofereceu-se ela.

- Sim - anuiu Scorpius, falando devagar, quase como se tivesse aprendido há pouco tempo - Os pais da Rose e os meus...

A feiticeira anuiu e sem perguntar quem eram os pais deles, o que, verdade seja dita teria sido um choque para Scorpius, afastou-se rapidamente.

Nem cinco minutos haviam passado quando quatro pessoas irromperam pelo corredor onde se encontrava Scorpius.

- Onde está a minha filha? O que é que aconteceu? O meu neto? - as perguntas de Ron atropelavam-se umas às outras, deixando o genro confuso.

- Scorpius, estás bem? - perguntou Astoria vendo que o filho estava prestes a desfalecer.

- A Rose começou a ter dores e eu... eu trouxe-a e eles tiraram-ma e não me dizem nada e e e… - então Scorpius lançou os braços ao pescoço da mãe e afundou a face nos seus cabelos - É demasiado cedo, ainda faltava mais de um mês... E se algo correu mal? Mãe, não a posso perder! Sem ela... - e para choque dos presentes, Scorpius começou a chorar. Os seus pais olhavam-no, sem saber o que fazer; nunca haviam visto o filho em tamanho desespero.

Então, subitamente, o homem sentiu-se a ser arrancado dos braços da mãe e no instante seguinte, ser atingido por um murro que quase o fez desequilibrar-se.

- Ronald! - arfou Hermione, segurando o marido, que tremia.

- Ouve meu menino, isto não é hora para chorares, ok? Quando o curandeiro te disser que podes ir ter com a Rose vais imediatamente, compreendes? - e Scorpius sentiu a sua cabeca a anuir involuntariamente - E vais sorrir quando a vires, como se fosse uma visão dos deuses e vais estar perfeitamente calmo, sim?

Hermione sorriu internamente ao ouvir aquelas palavras: pelo que Harry lhe contara, Ron reagira de forma semelhante a Scorpius e fora necessário o seu pai para o colocar em forma antes de ele entrar no quarto da mulher.

- Mr. Malfoy? - chamou uma curandeira de cabelo preto e tanto Scorpius como Draco se viraram. O último sorriu ao filho e dando-lhe um leve empurrão, incitou-o a seguir a mulher.

Ron suspirou profundamente e sentou-se numa das cadeiras que ladeavam o corredor.

- Miúdo idiota... - murmurou ele, enquanto Hermione lhe massajava o braço.

Astoria e Draco também se sentaram, ainda que com duas cadeiras de intervalo entre os dois casais. Hermione olhou para Astoria e ambas trocaram um olhar resignado: os maridos eram demasiado orgulhosos para alguma vez ultrapassarem aquela raiva recíproca.

Enquanto imaginava o que poderia estar a acontecer no quarto da filha, Hermione fora puxada por recordações do passado para um dia específico há dois anos atrás.

Rose sorria, nervosa, enquanto se olhava ao espelho. O seu longo cabelo cor de cobre estava entrançado em delicadas flores brancas, enquanto Hermione se dedicava a colocar um longo véu na parte de trás da sua cabeça.

- Pronto - proferiu a mãe, afastando-se da filha para a observar na totalidade. Sentiu o coração apertado e teve de conter-se para não a esmagar num abraço - Estás perfeita...

- Mãe, estás a chorar?

- Não sejas tonta, sabes bem que a culpa é da maquilhagem... - retorquiu Hermione, enquanto tentava esconder as lágrimas por detrás da azafama de endireitar o longo vestido branco da filha.

Rose sorriu e abanando a cabeça, abraçou a mãe contra si.

- Sabes que vou ser sempre a tua menina, certo? – murmurou ela, pelo que Hermione gemeu e começou a soluçar, apertando a filha contra o seu corpo.

Alertadas por uma tossidela de que já não estavam sozinhas, as duas mulheres afastaram-se e depararam-se com Lily, na ombreira na porta.

- Eu vou andando para baixo para avisar o teu pai - disse Hermione, dirigindo-se a Rose, enquanto tentava limpar a cara de quaisquer residuos do liquido salgado. Ao passar por Lily dirigiu-lhe um sorriso e iniciou a descida das suas enormes escadas.

- O teu filho é que tem sorte de casar com a minha filha! - uma voz vinda da sala onde estava o piano de Hermione fê-la estacar a meio da descida. Ela conhecia aquela voz e apostaria tudo o que tinha a quem pertenceria a que lhe iria responder.

- Bem vejo que a tua filha não demonstra o mesmo tipo de classe que tu...

- Pode ter mais classe - e Hermione quase podia ver o ar de nojo que estaria na face do marido - mas não te esqueças de que serão os teus netos que terão a minha cor de cabelo! - e pela voz de Ron, este parecia estar subitamente divertido.

- Mas não te esqueças - começou Draco - de que será a tua filha a envergar o nome Malfoy!

Pelo silêncio opressivo que se seguiu, Hermione resolveu interpor-se antes de acontecer uma tragédia. Se não estivesse tão ansiosa teria rido da expressão ofendida do marido, como se só agora se lhe tivesse ocorrido que Rose Dora Weasley deixaria de existir para se tornar Rose Dora Malfoy.

- A Rose esta à tua espera - dissera-lhe ela e Ron seguira-a, ainda num estado de torpor.

Ver o marido a conduzir a filha até ao altar e depois a sussurrar algo que fez o jovem Malfoy contorcer-se, Hermione não podia deixar de sentir esperançosa. O olhar que os noivos trocavam fizeram-na encher de orgulho e agarrando com força a mão de Ron, sentiu os lábios do marido tocarem-lhe no cabelo, enquanto ambos tentavam conter as lágrimas.

Os pais do jovem casal não sabiam dizer quanto tempo haviam estado à espera quando um trémulo curandeiro lhes apereceu à frente.

- Mr. e Mrs. Weasley - guinchou ele, reverentemente, apertando as mãos de ambos com respeito. Draco rolou os olhos e Ron não pode deixar de lhe lançar um olhar irónico.

- Como estão a Rose e o bebé? - perguntaram simultaneamente Hermione e Ron.

- Estão ambos bem. Tenho a alegria de vos anunciar de que tem uma linda neta - afirmou o homem, com um enorme sorriso - A rapidez de Mr. Malfoy foi essencial. Se tivesse demorado mais a vir ter connosco poderia ter-se tornado um caso complicado...

Ron suspirou e deixando-se cair numa das cadeiras, enterrou a cara nas mãos. Parecia que o jovem Malfoy estava sempre um passo à frente da tragédia que prejudicaria Rose. Deixou sair uma gargalhada trémula e levantando a cabeça, puxou a mulher para um abraço apertado.

Draco e Astoria ainda olhavam para o curandeiro, como se a informação não tivesse chegado aos seus cérebros, mas finalmente ultrapassando o choque de quase terem perdido a neta e a nora, abraçaram-se, com Draco repetir "só espero que não seja ruiva" e Astoria a ralhar-lhe por estar a pensar aquilo numa altura daquelas.

- Podemos vê-los? - perguntaram, ao mesmo tempo, Hermione e Astoria.

O curandeiro anuiu e fazendo-lhes sinal para o seguirem, chegaram a um quarto ao fundo do corredor. Espreitando pela fresta aberta, puderam ver Scorpius sentado à beira da cama, com um braço por cima dos ombros de Rose e a fazer expressões ternurentas a algo envolto em cobertores.

Ron sentiu o seu coração parar e por momentos não conseguiu respirar. Podia ver a sua filha aos 5 anos a aprender a andar de vassoura, ao 11 a saltar com a carta de Hogwarts nas mãos, aos 14 a cochichar com Victoire sobre Teddy, aos 17 a dizer-lhe que amava o filho do seu pior inimigo, aos 20 a dizer-lhe que Scorpius a pedira em casamento, há sete meses atras a anunciar a sua gravidez, mas a imagem que realmente lhe ficara gravada na memoria fora a Rose de 17 anos, a enfrentá-lo por aquilo em que acreditava... O brilho dos olhos dela naquele momento deviam tê-lo feito aperceber-se de que não era um simples capricho, mas só muito mais tarde, já em casa, com Hermione, pôde pensar sobre tudo o que acontecera e vira que o rapaz que ele se propunha a odiar não era o seu antigo colega, era o melhor amigo de Albus, um rapaz que havia ficado perturbado ao saber o que acontecera na mansão Malfoy, um rapaz que quase se atirara de uma vassoura para salvar a sua filha... Não, Scorpius não era como Draco, mas isso não queria dizer que tivesse de gostar do rapaz, suportá-lo sim, mas gostar não, afinal, era seu dever de pai manter o Malfoy na linha. Mas ao recordar como durante os últimos anos ele fizera a sua filha feliz, era difícil manter essa antiga promessa e ao vê-lo naquele momento, com uma expressão de adoração no rosto, Ron tinha de admitir para si mesmo que de facto gostava do genro, não que alguma vez o fossem ouvir dizê-lo em voz alta...

Hermione, sem se conseguir conter mais um segundo, correu para dentro do quarto e deixando cair os olhos sobre a neta, adquiriu uma expressão maravilhada.

- Ainda não nos disseram qual o seu nome... - disse Draco, que tentava refriar-se de imitar os gestos das duas mulheres que estavam a adorar a criança. Também ele queria olhar para neta e fazer expressões engracadas, mas deixaria tais manifestações de afecto para quando o Weasley não estivesse presente.

- Sienna... - murmurou Rose, destapando a cabeca da bebé e mostrando a pequena penugem laranja alourada que lhe cobria a cabeça.

- Significa laranja-avermelhado... - informou Hermione, vendo o ar confuso dos restantes adultos.

- Ah! - exclamou dramaticamente Ron, apontando um dedo acusador a Draco - Pode ter o apelido dos Malfoy, mas o seu primeiro nome não poderia ser mais representativo dos Weasley, isto sem falar no cabelo... Não é de um ruivo tão bonito?

Draco engoliu em seco e por momentos parecia que se ia atirar a Ron, quando um grito irrompeu dos braços de Rose.

- O que se passa? Ela está bem? - questionou ele, esquecendo toda a anterior raiva, ao ouvir a neta chorar.

- Deve ter fome... - respondeu Astoria, fazendo ambos os homens olharem para a porta do quarto e encaminharem-se para ela. Preferiam que Rose tivesse toda a privacidade para amamentar a sua filha. As duas mulheres seguiram os maridos, deixando Scorpius a auxiliar Rose com a bebé.

- Já nasceu? - perguntou subitamente alguém, quando os quatro saíram do quarto e ao olharem para o corredor em redor, depararam-se com todos os Weasleys, Potters e Elise à espera deles.

- Sim! - exclamou Ron, com um enorme sorriso, enquanto era abraçado por Harry.

- Bolas e eu que queria ver a cara do Scorpius quando a Rose entrasse em trabalho de parto... - queixou-se Albus, fazendo a irmã dar-lhe um beliscão.

- Ele portou-se exactamente como o Ron - murmurou Hermione a Ginny, Angelina e Fleur, que desataram a rir.

Com Ron a descrever as cenas anteriores, a família tomou conhecimento de tudo o que havia acontecido e foi com enormes sorrisos que entraram, aos poucos, no quarto de Rose, carregando peluches e flores para as duas raparigas.

Ao final da noite, quando toda a gente se tinha ido embora e apenas os quatro avós ainda restavam no hospital e apenas um deles acordado, podia ser visto um homem magro de cabelo platinado debrucado sobre um berço. Os pais da criança dormitavam após horas de exarcebação psicológica e ele tinha finalmente tempo para observar a bebé. Tinha os olhos cinza-azulados do pai, uma pele pálida e algumas sardas, que ao contrário de denegrirem a imagem de perfeição, apenas a complementavam, pelo menos aos olhos de Draco Malfoy. Sienna despertara ao sentir a presenca do avô e por momentos olharam-se, mas então, com um leve suspiro, voltou a fechar os olhos e adormeceu. Draco sorriu e fazendo-lhe uma festa na bochecha, desejou que aquela imagem angelical nunca viesse a saber o que ele tinha feito. Não havia nada no mundo que merecesse mais a paz e a protecção dos males do que aquela criaturinha delicada. E naquela noite, Draco fez a promessa para si mesmo de que perderia tudo antes de perder o amor da neta. E durante todos os anos da sua vida, essa promessa nunca foi quebrada, por mais brigas que existissem entre Weasleys e Malfoys, Sienna nunca deixara de olhar para ele com toda a adoração que dedicava a todos os avós. Mesmo quando ele apanhara um rapaz a entrar-lhe pela janela e o escorraçara da casa à cajadada... Bem, talvez nesse momento específico, não fosse um olhar de adoração que ele lhe vira no rosto, mas o que eram pequenos pormenores no grande esquema da vida? E afinal, o rapaz que não aguentasse as suas cajadadas não era digno da sua neta... Mas isso, já é outra historia...

Fim...


Usque in Sempiternum, meus amigos...