Disclaimer: Peter Pan pertence a James Matthew Barrie e a Walt Disney. Não estou ganhando nada com isso.

Ele a observava. Observava o seus belos cachos louros, que há alguns anos caiam até a cintura. Ele lembrava o quanto amava o cabelo dela – tão longo e brilhante que mais parecia um lençol de ouro, escorrendo por seus ombros, moldando sua cintura. Continuavam louros – e belos – mas agora eram apenas até a altura do ombro, presos de forma controlada em um coque alto. Devia ser um penteado da época, é claro. Um penteado para mulheres adultas.

(estavam tão presos que não soltariam se os dois dançassem novamente)

Observava o seu vestido elegante. Tão elegante quanto das adultas que ele via lá embaixo. Um vestido elegante, cinza e sem graça, assim como o lugar em que ela vivia agora.

(era elegante demais para uma garota que lutara contra piratas)

Observava o beijo de boa noite em que dava em seus filhos, logo após ler histórias sobre garotos que nunca cresciam, piratas malvados e fadas que soltam pó de pirlimpimpim. Mas as histórias eram superficiais demais, contadas em terceira pessoa, como qualquer adulto contaria. Parecia que ela nunca tinha vivido aquilo! E ela vivera, é claro.

(aquelas histórias que eles viveram juntos)

Observava o carinho entre ela e ele, um homem que não deveria existir. Porque se ela tivesse ficado ao seu lado, em um lugar onde ninguém envelhece, esse homem nunca a conheceria.

(desde quando crianças têm maridos? Ela não teria, é claro)

Mas ele também observava seus atos. O fato de ela sempre ficar olhando para janela, quando pensava que ninguém estava prestando atenção, era um tanto estranho. Ela não sentia saudades, sentia? Não, claro que não. Se sentisse, teria voltado.

(ah, como ele desejava isso)

Mas agora era tarde demais, ele também observava. Ela tinha crescido, e adultos não eram permitidos em Neverland.

(e agora ela era apenas mais uma adulta, como todas as outras)